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The Museum is Open

The Museum building will remain open to the public through October 17, 2025. For more information about visiting the Museum, please visit Plan Your Visit.

Padre John Pawlikowski

Por mais de 40 anos, o Padre John Pawlikowski tem incentivado católicos e outros religiosos a confrontar a longa história de antissemitismo cristão.

Transcrição

PADRE JOHN PAWLIKOWSKI: Para mim, uma das mensagens trazidas por Jesus foi sobre a importância dos direitos humanos básicos. [O Papa] João Paulo II disse que, se você realmente crê em Cristo, você irá defender a dignidade humana e os direitos humanos básicos. 

DANIEL GREENE: Por mais de 40 anos, o Padre John Pawlikowski tem incentivado católicos e outros religiosos a confrontarem a longa história do antissemitismo cristão. O Holocausto, afirma Pawlikowski, deve permanecer como uma questão central para a identidade e a reflexão cristãs. Hoje, como professor de Ética Social, da União Teológica Católica de Chicago, Pawlikowski é figura de destaque na promoção do diálogo e das relações inter-religiosas entre católicos e judeus. 

Bem-vindo a Vozes Sobre o Anti-semitismo, uma série de podcasts do Museu Estadunidense Memorial do Holocausto, a qual foi possível graças ao generoso apoio da “Oliver and Elizabeth Stanton Foundation”. Meu nome é Daniel Greene. A cada duas semanas, convidamos um participante para refletir sobre as diversas maneiras como o antissemitismo e o ódio afetam o mundo nos dias de hoje. Com a palavra, o Padre João Pawlikowski. 

PADRE JOHN PAWLIKOWSKI: Historicamente, o  cristianismo, promoveu o antissemitismo, ou seja, o antijudaísmo. Basta olhar a história da arte cristã, por exemplo. Existem as famosas imagens expostas na fachada da catedral católica de Estrasburgo, França, onde o judaísmo e o cristianismo são confrontados. O judaísmo é apresentado sob a forma de uma mulher idosa, suja, vendada e desanimada, segurando uma Torá danificada; o cristianismo, por sua vez, é apresentado sob a forma da imagem de uma mulher jovem e vigorosa segurando o Evangelho, e assim por diante. Quero dizer que esse tipo de contraste leva claramente a uma compreensão extremamente negativa dos judeus e do judaísmo, algo que fazia parte da cultura cristã em quase todos os lugares, em cada período da história a partir do século 2, tendo perdurado até o século 20. 

De certo modo, é verdade afirmar que o nazismo foi um fenômeno totalmente pagão, e também fundamentalmente antirreligioso de forma geral. Contudo, acredito que Hitler utilizou muito do antissemitismo cristão clássico como recurso importante para convencer as massas a apoiarem sua ideologia. 

Há uma relutância em reconhecer que a Igreja, como instituição, teve um papel significativo na difusão do antissemitismo. O argumento de algumas pessoas no cristianismo é o de que "sim, houve algumas maçãs podres que colaboraram com os nazistas ou que difundiram o antissemitismo ao longo dos séculos, mas eles estavam mal orientados". Bem, mas quem os orientou mal? Esta é a pergunta que eu e alguns colegas fazemos. Foram os pregadores cristãos, foi a arte sacra da Igreja, e assim por diante. Acredito que qualquer tradição religiosa que continue a abrigar sementes de violência e de discriminação contra outras pessoas simplesmente silencia qualquer influência moral crível que possa vir a ter. 

Quero dizer, por um lado a Igreja é uma instituição humana, e eu sempre vi como uma de suas falhas a incapacidade de criticar de maneira afetuosa e honesta, e, apesar de tudo, com rigor, como algo essencial para a expressão autêntica da fé. 

Acredito que a luta pelos direitos humanos e pela dignidade humana está no cerne da verdadeira compreensão dos ensinamentos de Cristo, mas também acredito que existe um interesse próprio, por parte dos cristãos e de todas as pessoas religiosas, em preservar a dignidade do próximo. Não poderá haver paz no mundo sem paz entre suas religiões; logo, a proteção dos direitos humanos e da dignidade humana do próximo também é a proteção e a garantia de nossos próprios direitos humanos e de nossa própria dignidade humana.